"O professor só pode ensinar quando está disposto a aprender"

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Intertextualidade


TEXTO I

Zé Ninguém (Biquini Cavadão)

Quem foi que disse que amar é sofrer?
Quem foi que disse que Deus é brasileiro,
Que existe ordem e progresso,
Enquanto a zona corre solta no congresso?
Quem foi que disse que a justiça tarda mas não falha?
Que se eu não for um bom menino, Deus vai castigar!
Os dias passam lentos
Aos meses seguem os aumentos
Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes
Quem foi que disse que os homens nascem iguais?
Quem foi que disse que dinheiro não traz felicidade?
Se tudo aqui acaba em samba, no país da corda bamba, querem me derrubar!!
Quem foi que disse que os homens não podem chorar?
Quem foi que disse que a vida começa aos quarenta?
A minha acabou faz tempo, agora entendo por que ....
Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes (4X)
Os dias passam lentos
Os dias passam lentos
Cada dia eu levo um tiro
Cada dia eu levo um tiro
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes...

 

TEXTO II


Cada Um Com a Sua Cara (Biquini Cavadão)

Ei!!!
Cada um com a cara que Deus lhe deu (4x)
Cara pra sorrir
Para chorar
Para mentir
Cara pra rezar
Para sonhar
Para pedir
Cara para amar
Para dormir
E dizer adeus
Cara olha a sua cara no espelho
Essa é a que Deus lhe deu
Cada um com a cara que Deus lhe deu (4x)
Cara pra lutar
Para ganhar
Para perder
Cara pra encarar
Para gritar
Para viver
Cara indignada
Cara pintada de brasileiro
Cara, olha a sua cara no espelho
Essa é a que Deus lhe deu
Cada um...
Com a cara que deus lhe deu!
Duas caras
Uma vida pra viver
Duas caras
Quanta historia pra contar
Qual é a cara que você vai esconder?
Qual é a cara que você vai mostrar?
Uh Uh!
Cada um com a cara que Deus lhe deu (4x)
Eu digo
Qual é a cara que você vai mostrar?
Cada um com a cara que deus lhe deu!
Eu digo
Qual é a cara que você vai mostrar?
Cada um com a cara que deus lhe deu!



 TEXTO III
Cordel da Corrupção
Por Gustavo Dourado

Basta à Corrupção
Chega de impunidade
Suborno e concussão
Ladroagem, falsidade
Politicagem e canalhice
Contra a Sociedade...

Banqueiros e magnatas
Marajás e tubarões
Os políticos desonestos
Em palácios e aviões
Desviam o nosso dinheiro
Com as vis corrupções...

Maracutaias, falcatruas
Tramóias , picaretagem
A safadeza é geral
Comanda a pilantragem
A politicanalha surrupia
Nas câmaras da sacanagem...

Pilham o rico tesouro
Assaltam o público Erário
Roubam dos aposentados
Congelam nosso salário
Milhares de picaretas



A fazer do povo: otário...

A Nação é enganada
Pela corja de ladrões
Prometem o céu e o mar
Bem antes das eleições
Depois que ganham o voto
Fazem festas nas mansões...

É roubo de todo tipo:
Peculato, nepotismo
Apadrinhamento, desvios
Furtos e clientelismo
Mordomias, CC-5:
Só se vê fisiologismo...

Escândalo em todo canto:
A gatunagem é geral
Não se respeita o Povo
A traição é natural
Surrupiam as Empresas
E a Fazenda Estatal...

São raposas depravadas
Na porta do galinheiro
Falsificam o orçamento
Assaltam o financeiro
Nosso povo a passar fome:
Vai tudo pro Estrangeiro...

Milhões de desempregados
São vítimas da rapinagem
Os juros são imorais
Verdadeira sacanagem
A riqueza é concentrada
Pela alta bandidagem...
O Imposto é escorchante
Não dá mais pra agüentar
Quem trabalha é lesado
Não adianta reclamar
O dinheiro desaparece
Nos paraísos do além-mar...

50% de Imposto
Paga o trabalhador
É descontado na fonte
Nada paga o fraudador
O Imposto é embutido
No sangue de nossa dor...

IPTU...IPVA
CPMF letal
CID e Previdência
Imposto ditatorial
Falta escola e emprego:
Sobra fila no hospital...

É preciso que ocorra
Uma mudança total
Séria Reforma Política
Ação Educacional:
Os políticos desonestos:
Em Presídio Federal...

Reforme-se os parlamentos
A política nacional...
Câmaras e assembléias
Executivo e tribunal
Gente honesta no Poder:
Para acabar tanto mal...

Chega de malabarismos
Roubos nas licitações
As quadrilhas do orçamento
As famosas comissões
Cadeia para os corruptos:
Corruptores...Tubarões...

O Governo para o Povo:
Sem canalha no Poder
Mais escolas e empregos
Mais salário e prazer...
Um choque de Honestidade:
Pra H istória subverter...


Gustavo Dourado. Baiano de Recife dos Cardosos-Ibititá (Irecê)-Chapada Diamantina, Gustavo Dourado(Amargedom).No DF há 29 anos atua/atuou nos movimentos poéticos, ecológicos, populares, estudantis(UnB), socioculturais. www.gustavodourado.com.br www.phalabora.ta-na.net  E-mail: gustavodourado@yahoo.com.br  





Análise dos textos

Iniciaremos a análise pela música “Zé Ninguém” (Biquini Cavadão). A canção foi composta no início da década de 1990, porém pela letra percebemos que permanece atual devido às denúncias feitas através da mesma. Em 1992, ela foi um dos lemas dos “Caras-pitadas” no impeachment do Presidente Fernando Collor de Melo. Analisando a letra da música podemos observar que a mesma, deixa explícito o descontentamento referente à política brasileira emergida na corrupção, na concentração de renda, no descaso das autoridades constituídas para com os menos favorecidos. Temos um eu-lírico representando um típico brasileiro da classe baixa desacreditado com o seu futuro e com o futuro de sua nação como um todo, denomina-se Zé, nome comum no Brasil (José), o que o caracteriza como cidadão normal. É enfatizado pelo poeta a impunidade para com os corruptos, omissão das autoridades que também estão corrompidas, a inflação, desilusão dos brasileiros e principalmente a corrupção que impregnou a política  no Congresso Nacional.
A segunda música denominada como “Cada um com a sua cara” (Biquini Cavadão), foi composta em 2005, pelo grupo baseando-se na música apresentada anteriormente,  porém de uma forma mais sutil. Temos um eu-lírico que aponta as várias caras dos brasileiros, assim podemos extrair duas visões distintas; a primeira é que vivemos em um país de diversas culturas e etnias; a segunda visão vai além, onde ele classifica o povo brasileiro em três grupos: pessoas submissas (do 3º ao 11º verso), pessoas de atitude (do 15º ao 22º verso) e políticos (do 27º ao 32º verso).
O terceiro texto chama-se “Cordel da Corrupção” (Gustavo Dourado), trata-se de um poema escrito em 2005. Onde temos uma crítica explícita à corrupção, o eu-lírico aponta de forma detalhada a conseqüência dessa atitude ao povo brasileiro, e declara que está cansado de ser enganado por políticos e pessoas que os cercam.
Ambos os textos tratam do mesmo assunto, porém de formas sucintas, sendo que o primeiro devido ao seu teor histórico serviu como base aos outros dois. Como foi citado a música “Zé Ninguém”, lançada em 1990 pelo grupo Biquini Cavadão sendo os mesmos autores do segundo texto escrito em 2005. No primeiro texto, temos um eu-lírico questionador que não aceita mais a desigualdade entre “o povo” e os governantes. No segundo texto, temos um eu-lírico observador que aponta de forma implícita a diferença entre o povo submisso, o povo questionador e os políticos corruptos. No terceiro texto, temos um eu-lírico descontente que aponta explicitamente os erros e o grau de corrupção a qual a política brasileira emergiu. Podemos afirmar que há intertextualidade entre os textos, observando que os temas debatidos são os mesmos – a corrupção, porém são enfocados de formas diferentes. O primeiro foi à base aos outros dois. O segundo, usa o termo “Cara-pintada de brasileiro”, o que nos remete ao movimento estudantil dos caras-pintadas e assim nos trazendo o primeiro texto, o qual era entoado nas ruas pelos estudantes. O terceiro, cita os corruptos como “magnatas”, mesmo termo usado para caracterizar os envolvidos na corrupção pelo primeiro texto.     

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