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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tipologia textual - Dissertação


            Título, tema, delimitação de tema

         O título e o tema no texto dissertativo


É muito comum a confusão que se faz entre título e tema. Observe a diferença e importância desse tópico na produção do texto dissertativo.

            Título: é uma vaga referência ao assunto abordado; normalmente é colocado no início do texto.

            Tema: é o assunto abordado no texto, a ideia a ser defendida.

Dependendo da proposta, podemos escolher diversos temas e títulos para o texto. Exemplos:

Tema: Família

Título: A ditadura dos filhos

Idéia central: As famílias sofrem ultimamente com a ditadura dos filhos consumistas que tudo pedem movidos pela onda de consumo propagada pela televisão; e os pais, perdidos nas novas tendências educacionais, permitem que os filhos mandem e desmandem na hora de comprar determinado produto.

Tanto o título quanto o tema poderiam ser outros, a proposta é muito ampla, permitindo várias opções de escolha. É importante que você seja criativo na escolha do título e que não use expressões simplórias.

            Delimitação do tema

Antes de iniciar um texto, pense, primeiramente quanto à delimitação do tema, ou seja, às vezes, você se defronta com um tema muito amplo para ser desenvolvido e sente dificuldade em escrever, pois já que ele é amplo demais, as idéias também serão múltiplas. Tome como exemplo o tema “Poluição”. Dá para escrever não só um texto, mas uma enciclopédia sobre o assunto... Se for solicitada, por exemplo, uma redação de 25/30 linhas, o resultado de seu texto será uma reunião de frases desconexas e genéricas, e o assunto teria um tratamento superficial. Numa redação, as idéias devem ser delimitadas para que a argumentação possa ser, no mínimo, convincente. Veja algumas possíveis delimitações para o tema escolhido como exemplo – “Poluição”:
·         Poluição dos rios
·         Poluição sonora
·         Poluição e saúde pública
·         Poluição sonora e o sono
·         O que a sociedade deve fazer perante o problema da poluição
·         A poluição do ar e a saúde dos nossos pulmões
·         A poluição do solo e o futuro dos campos férteis

Observe-se que nesses exemplos o tema será poluição, mas seu campo de extensão é delimitado, marcado. Seu texto será muito mais profícuo e interessante, pois você terá mais chances de fazer valer seu ponto de vista quanto à questão abordada. Delimitado o tema, veja um exemplo de como planejar um texto. Tome como parâmetro o tema “poluição nos rios” – observe que ele já vem delimitado: você vai escrever sobre a poluição, especificamente a dos rios.

Tema: poluição dos rios
-          morte de vários peixes;
-          desequilíbrio na flora e fauna aquática;
-          indústrias despejam poluentes nas águas;
-          nenhum controle por parte das autoridades responsáveis;
-          com o aumento da poluição, o que será de nós daqui a algumas décadas?
-          poluição da água que bebemos;
-          na Inglaterra recuperaram um rio que era totalmente poluído, o Tâmisa;
-          não existe só poluição dos rios, há também poluição do ar e do solo;
-          o rio Tietê, em São Paulo, é totalmente poluído; é só passar nas suas margens que a gente sente o cheiro;
-          antigamente as pessoas até tomavam banho no Tietê;
-          contaminação dos peixes que comemos;
-          campanhas educativas para a população;
-          destruição dos rios = destruição do planeta = destruição da nossa casa = destruição de nós mesmos;
-          contaminação de plantações irrigadas por água poluída;
-          desequilíbrio ecológico;
-          desenvolvimento de projetos para reaproveitar o lixo que é lançado nos esgotos;
-          detergentes biodegradáveis;
-          despejo de esgotos nos rios
-          maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis

            Com um bom número de idéias levantadas, ficará mais fácil redigir seu texto !!!.

ORGANIZANDO AS IDEIAS

A proposta agora é agrupar as idéias, separando as causas, conseqüências e soluções. Procure selecionar somente as idéias que sigam uma linha de pensamento, isto é, que estejam interligadas.

            FATO: Poluição desmesurada dos rios


            CAUSAS: Por quê?

-          indústrias despejam poluentes nas águas;
-          nenhum controle por parte das autoridades responsáveis;
-          despejo de esgotos nos rios;
-          detergentes biodegradáveis


          CONSEQUÊNCIAS: O que acontece em razão disso? (por isso, logo)

-          morte de vários peixes;
-          contaminação dos peixes que comemos;
-          poluição da água que bebemos;
-          contaminação de plantações irrigadas por água poluída;
-          desequilíbrio ecológico


            SOLUÇÕES:

-          seguir o exemplo da Inglaterra, onde recuperaram um rio que era totalmente poluído, o Tâmisa;
-          desenvolvimento de projetos para reaproveitar o lixo que é lançado nos esgotos;
-          campanhas educativas para a população;
-          maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis

          Feito isso, veja como ficará mais fácil produzir um texto coeso e coerente:

          “A poluição dos rios está se tornando desmesurada e incontrolável, pois despejam-se poluentes e esgotos nas águas e, além disso, detergentes não-biodegradáveis ainda são produzidos e jogados nos rios. Tudo isso gera a morte de peixes, poluição da água que bebemos, e o acúmulo de detritos no leito dos rios provocam inundações. Se seguíssemos o exemplo da Inglaterra, que recuperou o rio Tâmisa, e se fossem criadas campanhas educativas para a população, bem como uma maior fiscalização por parte das autoridades, esse problema seria facilmente resolvido”.

          Observe que as idéias foram reelaboradas, e só algumas foram utilizadas, aquelas que tinham a ver com o raciocínio do autor.

            Dinâmica argumentativa
Há inúmeras maneiras de convencer alguém de algo. Podemos tentar impor nossa vontade usando a violência. Ou recorrendo à demonstração científica. Ou simplesmente ganhando no grito.
Podemos, no entanto, argumentar. Quem argumenta parte do princípio de que não vai ganhar uma discussão no grito ou na base da força (física, de sua autoridade, de seu status).
Argumentar exige debate aberto e ético. Não manipulativo. Com todos os argumentos a nosso alcance abordados, mesmo os avessos à nossa opinião. Ou não seria argumentação. Seria publicidade (apresentar as vantagens do que nos interessa sem exibir contrapontos), manipulação psicológica ou mera sedução (desviar-nos do principal, pela aparência dos fatos, não pelos fatos).
Seria buscar eficácia a qualquer preço.
A comunicação argumentativa parte do princípio de que a opinião pode ser defendida com rigor e abertura ao debate. Por isso, quem argumenta procura um acordo prévio com seu interlocutor. Como quem deseja estabelecer uma ligação a partir desse acordo.
            Há, enfim, uma dinâmica argumentativa. Porque argumentar não é só emitir opinião. Para o francês Philippe Breton, em A Argumentação na Comunicação (Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1998), a opinião existe antes de ser formulada. E mal formulada já entra no debate para não convencer ninguém.
Não podemos defender a descriminalização das drogas a uma platéia de policiais sem antes derrubar seu asco natural pela questão. Sem esse esforço prévio, nem teriam sequer paciência em nos ouvir. Por isso, devemos criar um terreno para que se reduza a resistência natural da platéia à nossa opinião.
Quem alimenta esperança de ser ouvido precisa transformar sua opinião em um argumento adequado a um auditório. Por isso, precisa prever o contexto em que sua opinião será recebida, aquele conjunto de valores e opiniões pré-concebidas já partilhado pelo público. Sua opinião inicial deve integrar-se ao contexto de recepção.
A retórica antiga sugeria preparar o terreno antes de emitirmos diretamente nossas opiniões. Descrever uma situação facilmente assimilada pelo ouvinte, antes de emitir pra valer o que pretendemos. Breton batiza o recurso de "enquadramento".
Enquadrar é tentar modificar o conjunto de opiniões e valores prévios, partilhados por quem nos ouve, para só então abrir espaço para a nossa opinião.

                        Dissertação x argumentação


Dissertar é exercer nossa consciência crítica, questionar um tema, debater um ponto de vista, desenvolver argumentos.

Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como objetivo primordial expor uma tese, analisar e interpretar idéias e pode ser identificada como demonstrativa: não se dirige a um interlocutor definido, constitui-se de provas, as mais impessoais possíveis. Na dissertação argumentativa, identificada como texto argumentativo, além de demonstrativo, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi-lo de que a razão está conosco.

"Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa  'vencer junto com o outro' (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar a relação, é falar à emoção do outro". A origem dessa palavra está ligada à preposição ‘per, 'por meio de, e a 'Suada, deusa romana da persuasão. (... ) Mas em que 'convencer' se diferencia de ‘persuadir'? Convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize".

(ABREU, A. S., A arte de argumentar - gerenciando razão e emoção. SP: Ateliê, 1999)

Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate-boca” estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumentos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos exemplos,  os dados estatísticos e o testemunho.

A estrutura dos dois tipos de composição é a mesma: introdução, desenvolvimento e conclusão.

FORMAS DE INTRODUÇÃO DO PARÁGRAFO

A introdução situa o leitor quanto ao que será discutido. Funciona como uma apresentação do texto. Por isso, ela deve ser interessante, chamar a atenção do leitor, assim como o fez o título. Observe alguns tipos de introdução:
       Introdução-roteiro: Nela, o autor refere-se ao tema a ser discutido e à forma como o texto será organizado. Exemplo: “Discutem-se muito, atualmente, as causas e conseqüências da poluição dos rios”.
       Introdução-tese: Menciona-se de pronto o que se pretende provar. Obviamente a tese será retomada na conclusão, que funcionará como confirmação do que foi exposto no começo, apoiada no desenvolvimento. Neste, a tese deve ser comprovada. Exemplo: “A poluição nos rios é uma questão que envolve toda a comunidade: população, indústrias, governo”.
       Introdução com exemplos: talvez seja a que mais atrai a atenção de quem lê, pois colocam-se exemplos de como a situação exposta ocorre, dando ao leitor toda a dimensão do problema. Exemplo: “Milhares de peixes mortos boiando nos rios. Espumas alvas decolando da superfície da água. Um cheiro insuportável de enxofre na avenida Marginal do rio Tietê. Este é um quadro que revela toda a dimensão do problema que é a poluição nos rios”.
       Introdução-interrogação: Apresenta questões relacionadas ao tema, as quais devem ser respondidas ao longo do texto. Exemplos: “Com a crescente poluição dos rios, como chegaremos ao próximo Milênio?” Ou “É possível combater os efeitos da poluição nos rios?”

DESENVOLVIMENTO DO TEXTO DISSERTATIVO (Recursos argumentativos)
Pode-se desenvolver o texto dissertativo de diversas maneiras: enumeração, causa/ conseqüência, exemplificação, confronto, dados estatísticos e citações, além de outros. Vejamos como trabalhar com esses tipos de desenvolvimento:

1)          Enumeração: Consiste em especificar a idéia central através de pormenores, de enumerações.
“Como as pessoas podem se livrar da tirania da aparência? (...) O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno”.
                                                                                                          (R.Shinyashiki. Entrevista a IstoÉ, 19.10.05)

Note que o autor foi enumerando e explicitando cada item de seus argumentos.

2)          Causa/conseqüência: É freqüentemente usado este recurso no desenvolvimento dos textos dissertativos; o autor apresenta a causa do problema para em seguida mostrar as possíveis conseqüências.

“Entre as causas da poluição dos rios, encontramos o despejo de esgotos e de poluentes industriais nas águas. Este fato agrava-se mais porque o controle por parte das autoridades responsáveis é muito pequeno. A poluição pode ser explicada também pelo descaso da população, que acaba por não se preocupar com o problema, o que se revela, por exemplo, pelo uso de detergentes não biodegradáveis.

Como efeito da poluição dos rios, temos notadamente a morte dos peixes, gerando um profundo desequilíbrio ecológico. Ainda como conseqüência, ocorre a contaminação de plantações irrigadas por água poluída. A transmissão de doenças infecciosas aos indivíduos surge também como resultado da contaminação da água e dos peixes por eles ingeridos. Por fim, inundações decorrem também do acúmulo de detritos no leito dos rios”.

Observe que as palavras em negrito/itálico enfatizando a forma de desenvolvimento por causa/conseqüência.

3)          Exemplificação: Outro meio de argumentação que facilita o trabalho do autor; nele mostram-se exemplos que comprovam a defesa dos argumentos. Observe que, com relação ao vício do tabagismo, a repórter usou o Brasil como exemplo de sua tese, de que as empresas lucram muito com o vício.
“O mercado mundial de cigarros movimenta 300 bilhões de dólares anuais. As fábricas geram empregos e impostos que vão direto para os cofres públicos, argumentam. No Brasil, por exemplo, o cigarro propicia uma arrecadação anual de 5,5 bilhões de reais em impostos. Em torno de 2 bilhões são gastos com o tratamento de saúde dos fumantes. Ou seja, sobram aos cofres públicos 3,5 bilhões.”                                                   
(Buchalla, A. Paula. Fonte desconhecida)

4)          Confronto: Consiste em comparar seres, fatos ou idéias enfatizando as igualdades e desigualdades entre eles.
“A leitura é muito mais enriquecedora no processo criativo do que o ato de assistir à televisão. No livro o leitor cria, organiza imagens; enquanto na televisão a imagem já vem construída, limitando o trabalho de criação do receptor.”

Veja que o autor confrontou duas idéias para defender a idéia central.

5)          Argumento de existência: É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas provável. Incluem-se provas documentais (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica.

“Segundo pesquisa do IBGE, publicada na Veja desta semana, de cada dez crianças nascidas no sertão do Norte e Nordeste do Brasil, cinco morrem antes de completar sete anos de idade. Não é possível que um país que acena para a modernidade deixe suas crianças morrerem por doenças facilmente curáveis ou de inanição. Nossos governantes devem dar condições para que a população menos favorecida tenha direito à vida.”

            Importante: Dados estatísticos só podem ser usados mediante comprovação

6)          Argumento de autoridade: Consiste em citar frases, máximas, trechos ou obras de escritores, intelectuais, políticos, etc.

“A mídia consagra e destrói pessoas num instante com o aval do público, que, como gado, segue a marcha da maioria; ídolos são trocados com rapidez absurda, políticos esquecidos são ressuscitados, vota-se por programa de governo. A maioria esmagadora é a representação cega e surda da mídia. Nelson Rodrigues, grande fazedor de frases já dizia: ‘Amigos, a unanimidade é burra.’ Está certo, o Nelson.”

7) Tempo e espaço: Apesar de serem mais comuns na narração, muitos temas de dissertação permitem uma organização em termos de tempo, ou de espaço ou ainda de tempo e espaço.

“Para viver, necessitamos de alimento, vestuário, calçados, alojamento, combustíveis, etc. Para termos esses bens materiais é necessário que a sociedade os produza. (...) Mas o desenvolvimento das forças produtivas está condicionado pelo desenvolvimento dos instrumentos de produção. Primeiro, os grosseiros e primitivos instrumentos de pedra. Depois, arcos e flechas, que possibilitaram a passagem da caça à domesticação de animais e à pecuária primitiva. A esse estágio seguiu-se o dos instrumentos de metal, que permitiram a passagem para a agricultura (...) Em traços rápidos, é esse o quadro do desenvolvimento das forças produtivas no decorrer da história da humanidade”.
(A.    G. Galliano, Introdução à sociologia)

CONCLUSÃO DO TEXTO DISSERTATIVO

O texto não termina quando os argumentos foram expostos, é necessário atar as idéias da introdução com os argumentos. O parágrafo de conclusão tem por finalidade amarrar todo o processo do texto por meio de síntese ou confirmação dos argumentos. A conclusão pode ser, entre outras:

1)          Conclusão-síntese: É a mais comum entre as usadas, tem por finalidade resumir todo o texto trabalhando em um parágrafo; no entanto, deve-se tomar cuidado ao usá-la para que o texto não se torne repetitivo. Em relação ao texto sobre poluição nos rios (Desenvolvimento por causa e conseqüência), pode-se concluí-lo assim:

“Dessa maneira, observamos que o problema da poluição nos rios envolve uma série de variáveis que incluem a população, as indústrias e o Estado”.
ou
“Portanto, o problema da poluição nos rios não é tão simples quanto possa parecer. Afeta-nos diretamente e faz-se necessária uma ação conjunta que envolva toda a comunidade”.

Note que a conclusão resume as idéias trabalhadas ao longo do texto.

2)          Conclusão-solução: Esta conclusão apresenta soluções para o problema exposto. Ainda com relação à poluição dos rios, uma conclusão-solução poderia ser:

“Como se nota pela dimensão do problema, algumas medidas fazem-se urgentes: é necessário investir em projetos de recuperação dos rios, tal como se fez na Inglaterra com o rio Tâmisa; por outro lado, devem-se desenvolver projetos que visem ao reaproveitamento dos esgotos. Ao lado disso, devem-se fazer maciças campanhas educativas para a população. Finalmente, há necessidade de uma ampla fiscalização por parte das autoridades responsáveis”.
Note que, neste caso, o autor mostra o que deve ser feito: indica uma proposta.

3)          Conclusão-surpresa: É o tipo de conclusão que exige mais trabalho e talento do autor, pois nela pode-se apresentar uma citação, um fato pitoresco, uma piada, uma ironia, um final poético ou qualquer outro que cause um estranhamento no leitor, deixando-o surpreso. Ainda sobre o mesmo tema de poluição dos rios, pode-se concluir assim:

“O grande físico inglês Isaac Newton disse: ‘A natureza não faz nada em vão’. E assim, os rios vão reagindo à ação destruidora dos homens”.
Ou
“Talvez possamos no futuro sentar à beira de um rio, beber da sua água cristalina, banhar-nos nas suas águas puras. Então descobriremos que o homem primitivo não era tão primitivo assim!”

Note que o autor usou, no primeiro exemplo, uma citação e, no segundo, um final poético.

DISSERTAÇÃO SUBJETIVA


Nas páginas anteriores, lemos textos cuja temática foi escrita objetivamente. Vejamos como pode se desenvolver uma dissertação subjetiva. Nela, o autor tem por objetivo comover o leitor, despertar-lhe alguma emoção. Diferente da dissertação objetiva, a subjetiva apresenta um texto mais leve, carregado de impressões pessoais do autor, a linguagem é trabalhada com delicadeza e lirismo, muito próxima da linguagem poética. Exemplo:

DA SOLIDÃO

Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre a sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.
No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza, e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com a vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco nos sentiremos enriquecidos.
Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloqüência de formas, para revelarem aquilo que lhe parece não só o mais estático dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua alma.
Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto – como o das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.
Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras da madeira, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranqüilos, metódicos telhados... Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir.
Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem se anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isto deixe de existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente “Estou aqui! estou aqui!”. Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para o descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.
Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente.
(Cecília Meireles. Escolha Seu Sonho. Rio de Janeiro: Record, p. 35-38.)

            a) Delimite o tópico frasal.
            b) Divida o texto em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Identifique as formas de introduzir, desenvolver e concluir.
            c) Justifique por que o texto é subjetivo. Use trechos do texto.
            d) Como começa a angústia? (Parágrafo 1)
            e) Há solidão, de acordo com os 2o e 3o parágrafos?
            f) O que procuram os fotógrafos e pintores? (Parágrafo 4)
            g) O que devemos fazer em relação às coisas? Para quê? (Parágrafos 5 e 6)
            h) Como é o mundo, segundo a autora? (Penúltimo parágrafo)
            i) A que conclusão chega a autora com relação à solidão?
            j) O texto tenta persuadir ou convencer? Justifique.

PRESSUPOSIÇÃO E INFERÊNCIA

A pressuposição é “a informação não expressa no enunciado que deve ser aceita indiscutivelmente como verdadeira pelo leitor, para que haja continuidade na leitura ou na discussão de um tema”.

                        Exemplo 1: As Universidades pararam de pesquisar por falta de verbas.
Para dar prosseguimento à leitura, o leitor deve aceitar como verdadeiro o pressuposto: as universidades pesquisavam antes.

            Exemplo 2: As Universidades não pararam de pesquisar por falta de verbas.
            Mesmo com o enunciado negado, o pressuposto está garantido, ou seja: as universidades pesquisavam antes.
A inferência “é um processo de raciocínio através do qual se estabelece uma relação não explícita entre dois enunciados e deles se chega a uma conclusão. É um dos tipos de raciocínio mais utilizados no processo interpretação, já que o texto, por ser um mecanismo de economia lingüística, não pode nem deve dizer tudo. Como disse o escritor italiano Umberto Eco, o texto é uma ‘máquina preguiçosa’ e, por isso, sempre há lacunas a serem preenchidas pelos leitores com seu conhecimento de mundo e sua capacidade de inferir”.

            Exemplo: Apesar das severas leis brasileiras contra manifestações de preconceito, ele continua ocorrendo de forma velada.
            Inferências possíveis:
1.      Há preconceito no Brasil;
2.      Há leis brasileiras que punem manifestações de preconceito;
3.      As leis não são suficientes para acabar com o preconceito velado;
4.      Para eliminar totalmente o preconceito, devem-se criar maneiras de punir também o preconceito velado (inferência possível, mas não necessária).




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