Contar histórias é uma atividade comum nas relações humanas, faz parte do ato de comunicação, não só na vida particular, mas também na profissional. Usamos aspectos da narração quando precisamos produzir relatórios, textos técnicos, e-mails e outros textos que fazem parte do cotidiano de qualquer profissional. Escrevemos para contar o que acontece, com quem, onde, como, por quê e para quê. Esses são os elementos do processo narrativo. Veja:
Quem narra a história? Identificação do narrador.
O que é narrado? Resumo do enredo.
Quem participa do conflito? Reconhecimento das pessoas ou personagens.
Por que elas estão em conflito? Procura dos motivos.
Onde (em que lugar) a história ocorre? Especificação do espaço e/ou do ambiente.
Quando ocorre o conflito? Especificação do tempo.
Como eram e são agora as personagens? Compreensão das mudanças ocorridas.
Obs.: a diferença entre narração e relato é que este não tem conflito. Na narração, a personagem tem que sofrer mutação, devido ao conflito.
A narração, assim como qualquer texto, também pode ser objetiva e subjetiva (veja a unidade DESCRIÇÃO)
Narração objetiva
Narração objetiva é aquela que costumamos ler em jornais, em livros de História etc. Veja um exemplo:
ÁRVORE CAI COM A CHUVA
“Ontem, na rua Colômbia, nos Jardins, desabou uma enorme e antiga árvore sobre dois carros. A tempestade e o forte vento que caíram sobre a cidade são os causadores do acidente.”
Observe que o narrador está em terceira pessoa; não toma, pois, parte da história, apenas relata de maneira imparcial, contando os fatos sem que sua emoção transpareça na narrativa. Resumindo, a narração objetiva apenas informa o leitor.
Narração subjetiva
Narração subjetiva é aquela em que o narrador deixa transparecer os seus sentimentos, sua posição diante do fato é sensível, emocional. Exemplo:
O CAJUEIRO
O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés da pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, beijos, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido.
A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram, mas depois foram brincar nos galhos tombados.
Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.
(BRAGA, Rubem. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1956.)
O narrador, neste texto, conta a princípio uma história banal: a queda de um cajueiro. No entanto, traz à tona suas recordações de infância, suas últimas visões da árvore e por fim a ironia: apesar de ser fins de setembro, primavera, o cajueiro que estava “tombado de flores” caiu. De forma tocante, o narrador nos faz sentir um certo sentimento de compaixão e carinho pelo cajueiro. A narração subjetiva tem esta finalidade.
O narrador
Ao produzir um texto, você poderá fazê-lo de duas maneiras diferentes, contar uma história em que você participa ou contar uma história que ocorreu com outra pessoa. Essa decisão determinará o tipo de narrador a ser utilizado em seu texto.
NARRADOR EM 1a PESSOA: Conhecido também por narrador-personagem, é aquele que participa da ação. Pode ser protagonista quando personagem principal da história, ou pode ser alguém que presenciou o fato, estando no mesmo local.
Exemplo: Narrador-protagonista:
“Era noite, voltava sozinho para casa, o frio estava insuportável, não havia ninguém naquela rua sombria, ouvi um barulho estranho no muro ao lado, assustei- me...”
Exemplo: Narrador 1ª pessoa
“Estava debruçado em minha janela quando vejo na esquina um garoto magro roubando a carteira de um pobre velho...”
NARRADOR EM 3ª PESSOA: Conhecido também por narrador-observador, é aquele que não participa da ação.
“João estava voltando para casa, à noite, sozinho, quando ouviu, próximo ao muro, um barulho estranho.”
Estrutura do Enredo
Geralmente, toda história tem um princípio (introdução), um meio (desenvolvimento), e um fim (desfecho). Contudo, em alguns casos esta estrutura não é obedecida. Veja-se a estrutura de uma história que apresenta começo, meio e fim:
Introdução: o autor apresenta a idéia principal, as personagens, o lugar onde vai ocorrer os fatos.
Desenvolvimento: é a parte mais importante do enredo, é nele que o autor detalha a idéia principal. O desenvolvimento é dividido em duas partes:
Complicação: quando há uma ligação entre os fatos levando a personagem a um conflito, situação complicada.
Clímax: é o momento mais importante da narrativa, a situação chega em seu momento crítico e precisa ser resolvida.
Desfecho: é a parte final, a conclusão. Nessa parte o autor soluciona todos os conflitos, podendo levar a narrativa para um final feliz, trágico ou ainda sem desfecho definido, deixando as conclusões para o leitor.
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