A descrição é uma espécie de retrato verbal de um determinado objeto. É descritivo o texto que tem por finalidade retratar algo, de forma que o interlocutor possa, por meio das palavras, criar mentalmente a imagem do objeto descrito. É importante ressaltar que como não há escrita sem intenção, descreve-se para atingir determinados objetivos, tais como:
· exaltar ou criticar.
· analisar conteúdos.
·
· fazer conhecer, direta ou indiretamente, o objeto descrito.
·
Ao descrever, a pessoa seleciona as palavras que pretende usar para que possa convencer o interlocutor. Se há um desejo de convencer, de fazer com que o interlocutor enxergue de acordo com a visão de mundo do enunciador, o texto descritivo possui uma função argumentativa.
Sendo assim, a descrição pretende ser um retrato verbal. Todavia, pretende retratar aquilo que os olhos do enunciador veem, que muitas vezes pode não corresponder à realidade. A descrição pode ser:
Objetiva: quando se retrata a realidade como ela é. Subjetiva: quando se retrata a realidade segundo nossos sentimentos e emoção. |
Descrição objetiva:
“A cômoda era velha, de madeira escura com manchas provocadas pelo longo tempo de uso. As três gavetas possuem puxadores de ferro em forma de conchas, nas duas laterais há ornamentos semelhantes àqueles de esculturas barrocas, os pés são redondos e ornamentados.”
Descrição subjetiva:
“Dona Cômoda tem três gavetas. E um ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fechada, egoísta.” (QUINTANA, Mário. Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto. 1984, p. 37).
Na primeira descrição, houve um retrato fiel do objeto; já na segunda, houve o ponto de vista do autor, o objeto foi descrito conforme ele vê.
Observação: Não confunda descrição e definição. Definir é explicar a significação de um ser. Descrever é retratar a partir de um ponto de vista. |
Veja a definição de uma cômoda: móvel guarnecido de gavetas desde a base até a parte superior, que serve para guardar coisas.
Na definição, não há ponto de vista, o objeto é descrito de maneira geral e serve para qualquer cômoda; já nas descrições prevalece a particularidade; cada cômoda foi descrita de forma diferente.
Descrição sensorial
A descrição sensorial, também conhecida por sinestésica, apoia-se nas sensações. Este tipo de descrição faz com que o texto fique mais rico, forte, poético; nele o leitor interage com o narrador e com a personagem. As sensações são:
Visuais: relacionadas à cor, forma, dimensões, etc.
“Era um olho amendoado, grande, dum azul celestial, de traços suaves...”
Auditivas: relacionadas ao som.
“O silêncio tornara-se assustador, o zumbido do vento fazia chorar as janelas...”
Gustativas: relacionadas ao gosto, paladar.
“Tua despedida amarga, o sorriso irônico, insosso; deixaram-me angustiado.”
Olfativas: relacionadas ao cheiro.
“O cheiro de terra trazido pelo vento úmido era prenúncio de chuva.”
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Táteis: relacionados ao tato, contato da pele.
“As mãos ásperas como casca de árvores, grossas, ríspidas, secas como pedra.”
Observe como as descrições sensoriais são trabalhadas neste belo texto da poetisa Cecília Meireles:
NOITE
Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada,
- tempo inseguro do tempo! –
sobra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.
Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
- lábio da voz sem ventura!-
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.
A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
- sozinho, com o seu perfume!-
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.
Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
- de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta
Entre as estrelas e o vento.
(MEIRELES, Cecília. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.)
Descrição técnica
A descrição técnica deve apresentar precisão vocabular e exatidão de pormenores. Deve esclarecer, convencendo. Pode-se descrever objetos, mecanismos ou processos, fenômenos, fatos, lugares, eventos. Determinar o ponto de vista e o objetivo do texto é muito importante na construção do texto descritivo, deles depende a estrutura do texto:
· que será descrito?
· que aspecto será destacado?
· quais são os pormenores mais importantes?
· que ordem será adotada para a descrição?
· a quem se destina o texto: ao técnico ou ao leigo?
Observe o seguinte exemplo:
“O motor está montado na traseira do carro, fixado por quatro parafusos à caixa de câmbio, a qual, por sua vez, está fixada nos coxins de borracha na extremidade bifurcada do chassi. Os cilindros estão dispostos horizontalmente e opostos dois a dois. Cada par de cilindros tem um cabeçote comum de metal leve. As válvulas, situadas nos cabeçotes, são comandadas por meio de tuchos e balancins. O virabrequim, livre de vibrações, de comprimento reduzido, com têmpera especial nos colos, gira em quatro pontos de apoio e aciona o eixo excêntrico por meio de engrenagens oblíquas. As bielas contam com mancais de chumbo-bronze e os pistões são fundidos de uma liga de metal leve.” (Fonte: Manual de instruções [Volkswagen]. In: Comunicação em prosa moderna. GARCIA Othon, Rio de janeiro: Editora FGV, 1996, p.388.)
1. O que está sendo descrito?
2. Que aspecto está em destaque?
3. Que pormenores parecem mais importantes?
4. Que ordem é adotada? Do geral para o particular (dedutivo) ou do particular para o geral? (indutivo)
5. A quem se destina o texto?
Descrição de ambiente e paisagem
Espaço é o lugar físico onde se passa a ação narrativa, e ambiente é o espaço com características sociais, morais, psicológicas, religiosas, etc. Ao se descrever um ambiente fechado, escuro, sujo, desarrumado, normalmente é sugerido um estado de angústia, ou solidão, ou desleixo. Já os lugares abertos, claros, coloridos, sugerem felicidade, harmonia, paz, amor. Portanto o ambiente descrito em seu texto deverá fazer com que o leitor perceba o rumo da história. Veja um exemplo:
“A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. De um casebre miserável, de porta e janela, ouviam-se gemer os armadores enferrujados de uma rede e uma voz tísica e aflautada, de mulher, cantar em falsete a “gentil Carolina era bela”, doutro lado da praça, uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas, apregoava em tom muito arrastado e melancólico: “Fígado, rins e coração!” Era uma vendedeira de fatos de boi. As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhargas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventrezinhos amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel. Um ou outro branco, levado pela necessidade de sair, atravessava a rua suando, vermelho, afogueado, à sombra de um enorme chapéu-de-sol. Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar, querendo morder os mosquitos. Ao longe, para as bandas de São Pantaleão, ouvia-se apregoar: “Arroz de Veneza! Mangas! Macajubas!” Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço. Da Praia de Santo Antônio enchiam toda a cidade os sons invariáveis e monótonos de uma buzina, anunciando que os pescadores chegavam do mar; para lá convergiam, apressadas e cheias de interesse, as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.” (AZEVEDO, Aluísio de. O Mulato. Apud Curso de Redação, Harbra. J. Miguel, p. 67.)
Note como todas as descrições procuram mostrar para o leitor um ambiente em decadência, miserável, fúnebre: “A praça da alegria apresentavam um ar fúnebre, de um casebre miserável, de porta e janela, ouviam-se gemer os armadores enferrujados de uma rede...”
“Os cães, entendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos...”
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